quinta-feira, 1 de novembro de 2001

 Diálogo e consenso: por um mundo melhor


Outro dia eu estava participando de uma reunião de um determinado grupo da comunidade e discutíamos alguns encaminhamentos das diretrizes que iríamos adotar no que diz respeito ao trabalho a ser desenvolvido.

 

Deram-se alguns momentos que, de acordo com o assunto, cada integrante tinha a liberdade de expor suas idéias. Depois que cada um falava iniciava uma votação e a idéia mais votada ficava sendo a escolhida.

 

Parece que isso tudo é muito normal e é o que na maioria das vezes acontece nos diferentes grupos de pastorais em nossas comunidades. Quase sempre não se busca uma reflexão aprofundada das idéias, o que elas correspondem, quais as dificuldades para pô-Ias em prática, se enquadram nos princípios do grupo, quais os objetivos, qual o público, etc.

 

Vivemos em uma sociedade que procura sempre fazer de nós "massas de manobras" de um sistema corrupto e corrompido, administrado por pessoas que buscam satisfazer apenas o seu "mundo" e nos faz acreditar que estamos tomados por uma bela "democracia absoluta". Se somos pobres é porque somos vagabundos, e eles são ricos porque se esforçaram para ocupar o posto.

 

Infelizmente, em alguns momentos, queremos dentro dos nossos grupos trazer e fazer valer esta realidade. O voto aparece como solução das nossas vidas.

 

Para a sociedade o voto aparece como uma forma de nos fazer acreditar que na teoria somos nós que escolhemos quem governa, isso tira "deles" a responsabilidade.

 

É preciso tomar cuidado! - acabamos de sair de uma ditadura militar que aprisionou e direcionou nossa capacidade de pensar e realizar, direcionou nossas vidas e nos colocou em um caminho de "rédeas curtas" podendo ir até um determinado limite.

 

Não podemos continuar a fazer o jogo "deles"e começar a busca mais constante do diálogo que, assim sendo, nossas decisões passar a ser tomadas pelo consenso.

 

Tenho plena convicção que o consenso diminuiu em grande proporção a possibilidade do erro. O consenso é fruto do diálogo, já o voto é fruto da necessidade de escolha, que muitas vezes são impensadas.

 

A história do Brasil mostra claramente as ações dos governantes que são escolhidos pelo voto e que têm a responsabilidade de representar a maioria da população, muitas vezes não defendem os interesses deste mesmo povo que o elegeu.

 

Nem sempre a maioria tem razão. É preciso pensar e repensar cada ação, traçar objetivos, fortalecer o diálogo permanente, buscar respostas e alternativas sempre em conjunto.

 

Jesus nos falou muito em parábolas, usava exemplos da realidade do povo para que sua mensagem "revolucionária" pudesse ser entendida. Gostava de estar reunido, partilhar e mostrar com seu jeito simples os caminhos que a humanidade deveria seguir.

 

A mensagem do Jovem de Nazaré nos ensina que o centro de nossas buscas e descobertas devem permanecer os princípios da humildade, do saber ouvir, aceitar e compreender um todo; ter a visão do nosso entorno e não apenas estar preso à aquilo que nos apresenta de maneira pronta e acabada.  homem que não se torna capaz de construir algo não consegue compreender o fundamento de sua própria existência. Tudo isso para dizer que, muitas vezes é preciso rever conceitos e atitudes, para começar a ser possível acreditar em uma igreja renovada e em um mundo melhor.


Leonardo J. D. Campos

Publicado no  Jornal Voz das Comunidades - Diocese de Santo André - Novembro de 2001 - p. 2.