terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pela paz consentida

Tem uma frase muito conhecida, da letra da música “eu só peço a Deus”, composição de Leo Gieco e Raul Elwanger, interpretada por diversas vozes, que diz: “Eu só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente, pois não posso dar a outra face se já fui machucado brutalmente”. Esta pequena parte da linda composição me remete a refletir sobre tantas formas de injustiças em nossa sociedade que passam despercebidas, por razões diversas, como, indiferença, comodismo, senso comum etc.

Fazendo menção à frase acima, percebo as tantas marcas brutais da violência em nosso país, violência de toda ordem às quais não é possível ser indiferente, ser conivente.

A violência contra a mulher, por exemplo, atinge dados assustadores no Brasil, onde a cada quatro minutos uma mulher é agredida em seu próprio lar, por uma pessoa com quem mantém uma relação de afeto; vinte e três por cento das mulheres brasileiras estão sujeitas à violência doméstica, dados publicados pela Sociedade Mundial de Vitimologia (http://www.worldsocietyofvictimology.org/).

Infelizmente, este cenário é amplamente conhecido por nós, mas me parece que a informação de que tantas barbaridades cometidas contra a mulher de todas as idades, não chegou ao conhecimento do bispo da Arquidiocese de Guarulhos (SP) dom Luiz Gonzaga Bergonzini, ao declarar em entrevista, ao jornal Valor Econômico, à jornalista Cristiane Agostine: “Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil”.

Senhor bispo, admita você, porque a única coisa que posso admitir ao ler esta afirmação é a minha indignação, a minha repulsa... Jesus Cristo, defensor da vida e da vida em abundância, talvez repetiria agora a sua célebre frase “Pai, perdoai-lhe”.

Justificar a violência como algo consentido é como dizer que eu gosto de ser violentado, que eu gosto de sofrer, que o sofrimento é algo aceitável. Convenhamos, ninguém, em sã consciência gosta de sofrer. Portanto, não há justificativa para a violência, ainda mais partindo do pressuposto acima.

Pela paz consentida, quero continuar acreditando na humanidade, nos direitos humanos, na vida como algo inviolável, nas relações humanas na sua essência, na justiça em todos os níveis; quero para minha filha, para todas as mulheres e homens a liberdade de viver esses valores; quero para todas as pessoas o direito e o dever de respeitar os caminhos dessa liberdade; quero que todas as feridas de qualquer ordem sejam estancadas sem cicatrizes, em favor da vida. 

Leonardo J. D. Campos