Diálogo e consenso: por um mundo melhor
Outro dia eu estava participando de uma
reunião de um determinado grupo da comunidade e discutíamos alguns
encaminhamentos das diretrizes que iríamos adotar no que diz respeito ao
trabalho a ser desenvolvido.
Deram-se alguns momentos que, de acordo com
o assunto, cada integrante tinha a liberdade de expor suas idéias. Depois que
cada um falava iniciava uma votação e a idéia mais votada ficava sendo a
escolhida.
Parece que isso tudo é muito normal e é o
que na maioria das vezes acontece nos diferentes grupos de pastorais em nossas
comunidades. Quase sempre não se busca uma reflexão aprofundada das idéias, o
que elas correspondem, quais as dificuldades para pô-Ias em prática, se
enquadram nos princípios do grupo, quais os objetivos, qual o público, etc.
Vivemos em uma sociedade que procura sempre
fazer de nós "massas de manobras" de um sistema corrupto e
corrompido, administrado por pessoas que buscam satisfazer apenas o seu
"mundo" e nos faz acreditar que estamos tomados por uma bela
"democracia absoluta". Se somos pobres é porque somos vagabundos, e
eles são ricos porque se esforçaram para ocupar o posto.
Infelizmente, em alguns momentos, queremos
dentro dos nossos grupos trazer e fazer valer esta realidade. O voto aparece
como solução das nossas vidas.
Para a sociedade o voto aparece como uma
forma de nos fazer acreditar que na teoria somos nós que escolhemos quem
governa, isso tira "deles" a responsabilidade.
É preciso tomar cuidado! - acabamos de sair
de uma ditadura militar que aprisionou e direcionou nossa capacidade de pensar
e realizar, direcionou nossas vidas e nos colocou em um caminho de "rédeas
curtas" podendo ir até um determinado limite.
Não podemos continuar a fazer o jogo
"deles"e começar a busca mais constante do diálogo que, assim sendo,
nossas decisões passar a ser tomadas pelo consenso.
Tenho plena convicção que o consenso
diminuiu em grande proporção a possibilidade do erro. O consenso é fruto do
diálogo, já o voto é fruto da necessidade de escolha, que muitas vezes são
impensadas.
A história do Brasil mostra claramente as
ações dos governantes que são escolhidos pelo voto e que têm a responsabilidade
de representar a maioria da população, muitas vezes não defendem os interesses
deste mesmo povo que o elegeu.
Nem sempre a maioria tem razão. É
preciso pensar e repensar cada ação, traçar objetivos, fortalecer o diálogo
permanente, buscar respostas e alternativas sempre em conjunto.
Jesus nos falou muito em parábolas,
usava exemplos da realidade do povo para que sua mensagem
"revolucionária" pudesse ser entendida. Gostava de estar reunido,
partilhar e mostrar com seu jeito simples os caminhos que a humanidade deveria
seguir.
A mensagem do Jovem de Nazaré nos
ensina que o centro de nossas buscas e descobertas devem permanecer os
princípios da humildade, do saber ouvir, aceitar e compreender um todo; ter a
visão do nosso entorno e não apenas estar preso à aquilo que nos apresenta de
maneira pronta e acabada. homem que não se torna capaz de construir algo
não consegue compreender o fundamento de sua própria existência. Tudo isso para
dizer que, muitas vezes é preciso rever conceitos e atitudes, para começar a
ser possível acreditar em uma igreja renovada e em um mundo melhor.
Leonardo J. D. Campos
Publicado no Jornal Voz das Comunidades - Diocese de Santo André - Novembro de 2001 - p. 2.