Movimento popular em movimento
Quero voltar no tempo para relembrar a organização popular nas
tantas lutas, operárias, dos sem terra, das associações de bairros, estudantil
etc, que movimentavam massas em prol de objetivos claros que se transformavam
em bandeiras, que às vezes demoravam anos (muitas delas permanecem até hoje)
para avançar nas conquistas.
Só para citar alguns nomes que
carregaram estas bandeiras, com os quais convivi: Eunice Germana Correa, a Dona
Geralda M. Silva, os saudosos Miguel Ângelo dos Santos e Vicente Rosa entre
tantos outros, pessoas simples que ficaram longe dos holofotes das mídias e que
se fizeram presentes nessas lutas por creche, pavimentação de ruas, saneamento
básico e muitas outras.
Se olharmos os dias de hoje,
podemos perceber um esvaziamento dos movimentos de massa, acredito que seja
pela falta de perspectivas. Alguns sinais estão aparecendo para tentar resgatar
essa condição “perdida”. O Fórum Social Mundial é um delas. Na nossa Região
temos o Fórum Social do ABC e, fora isso, temos poucas iniciativas, como o MST,
o Movimento de Mulheres, de Saúde etc.
Hoje, ao ver tudo isso, percebo que as pessoas se apegam a alguns fenômenos que penso estar “substituindo” as lutas: o primeiro foi a institucionalização de algumas lideranças que foram ocupar espaços em governos, enfraquecendo os movimentos. O segundo é o imediatismo onde as pessoas buscam os “milagres”, esperando que uma força suprema resolva os problemas, tanto os individuais como os coletivos. O terceiro, menos maléfico, é a solidariedade diante de situações específicas onde as pessoas ajudam com alimentos, roupas, dinheiro etc e se bastam como satisfeitas, acreditando já estarem fazendo a sua parte para “mudar o mundo”.
É preciso reconhecer os avanços já alcançados. O Brasil tem um operário no posto mais elevado de comando do país, tem a lei Maria da Penha, o Estatuto do Idoso, o ECA e tantas outras leis que são frutos dessas lutas. Mas, não podemos parar e deixar estacionados nossos sonhos. É urgente uma reflexão sobre o papel dos movimentos no século XXI, repensar ações e formas de atuação para manter viva a chama da construção de um mundo melhor, de paz e de justiça social.
Leonardo J. D. Campos
Artigo publicado no Jornal ABCD Maior - De
29 de janeiro a 1 de fevereiro - Caderno Opinião - Pág. 2