sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Movimento popular em movimento


Quero voltar no tempo para relembrar a organização popular nas tantas lutas, operárias, dos sem terra, das associações de bairros, estudantil etc, que movimentavam massas em prol de objetivos claros que se transformavam em bandeiras, que às vezes demoravam anos (muitas delas permanecem até hoje) para avançar nas conquistas.


Só para citar alguns nomes que carregaram estas bandeiras, com os quais convivi: Eunice Germana Correa, a Dona Geralda M. Silva, os saudosos Miguel Ângelo dos Santos e Vicente Rosa entre tantos outros, pessoas simples que ficaram longe dos holofotes das mídias e que se fizeram presentes nessas lutas por creche, pavimentação de ruas, saneamento básico e muitas outras.


Se olharmos os dias de hoje, podemos perceber um esvaziamento dos movimentos de massa, acredito que seja pela falta de perspectivas. Alguns sinais estão aparecendo para tentar resgatar essa condição “perdida”. O Fórum Social Mundial é um delas. Na nossa Região temos o Fórum Social do ABC e, fora isso, temos poucas iniciativas, como o MST, o Movimento de Mulheres, de Saúde etc.


Hoje, ao ver tudo isso, percebo que as pessoas se apegam a alguns fenômenos que penso estar “substituindo” as lutas: o primeiro foi a institucionalização de algumas lideranças que foram ocupar espaços em governos, enfraquecendo os movimentos. O segundo é o imediatismo onde as pessoas buscam os “milagres”, esperando que uma força suprema resolva os problemas, tanto os individuais como os coletivos. O terceiro, menos maléfico, é a solidariedade diante de situações específicas onde as pessoas ajudam com alimentos, roupas, dinheiro etc e se bastam como satisfeitas, acreditando já estarem fazendo a sua parte para “mudar o mundo”.


É preciso reconhecer os avanços já alcançados. O Brasil tem um operário no posto mais elevado de comando do país, tem a lei Maria da Penha, o Estatuto do Idoso, o ECA e tantas outras leis que são frutos dessas lutas. Mas, não podemos parar e deixar estacionados nossos sonhos. É urgente uma reflexão sobre o papel dos movimentos no século XXI, repensar ações e formas de atuação para manter viva a chama da construção de um mundo melhor, de paz e de justiça social.

 

Leonardo J. D. Campos

Artigo publicado no Jornal ABCD Maior - De 29 de janeiro a 1 de fevereiro - Caderno Opinião - Pág. 2

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