Brasil da Humanização
Confesso que minha percepção do mundo é de um imenso espaço onde as mais significativas potencialidades do ser humano possam estar à serviço da vida, em viver de maneira cooperativa, de maneira em que os avanços obtidos no campo do conhecimento, tecnologias, ciências, sejam realmente destinados em favor da própria humanidade e não das mazelas do capitalismo.
O Brasil vive, se não o melhor, um dos mais importantes e significativos momentos de sua história onde é possível verificar avanços em todas as camadas sociais, em todas as áreas temáticas e é possível verificar que adquirimos o total respeito internacional, que nos coloca em uma posição de referência no mundo.
Tantas coisas hoje são possíveis no Brasil, o que antes parecia coisa de outro mundo. Hoje são recebidos como “gente” no tapete vermelho do Palácio do Planalto índios e índias, trabalhadores e trabalhadoras, sem terra, negros e negras; hoje estamos vendo serem presos, políticos, juízes, desembargadores...
Sim, muitas coisas mudaram, mas há muito a ser feito. Não podemos aceitar, ao assistir pela TV ou ler nas páginas dos jornais, cenas como aquela, onde policiais, a sangue frio, sem piedade, sem o mínimo de humanidade, atiram sobre um adolescente de 14 anos, na cidade de Manaus; cenas onde uma mulher é obrigada a tirar a roupa para uma revista em São Paulo e que só se tornou público a mais ou menos 9 meses depois do ocorrido.
São dois de tantos outros fatos que poderia relatar e que nos remete a interpretar como o limite do abuso de autoridade, da ausência de valores, da incapacidade de compreensão da moral e isso para dizer que não se trata aqui e espero que em nenhum outro lugar, a possibilidade de qualquer justificativa, porque não existe.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo III nos diz que “toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” e no artigo V que “ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Estas palavras já bastariam.
Mas quero lembrar que, se Jesus Cristo, em sua humanidade visse estas cenas, repetiria suas sábias palavras “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”; diria Mahatma Gandhi que “o mundo está farto de ódio”; Martin Luther King está em outro plano nos alertando que “nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam”; Dom Oscar Romero - no último dia 24 de março se celebrou 31 anos de sua morte - diria em uma de suas revolucionárias homilias que “ninguém está vencido, mesmo que o coloquem debaixo da bota da opressão e da repressão”...
Não, não posso deixar de expressar o meu sentimento de indignação e ainda dizer que nosso país e o seu povo ainda precisa aprender algumas lições e a primeira delas é a de não se calar diante de tantas barbaridades, de tantas injustiças. Só assim é que será possível continuar a seguir o caminho do desenvolvimento, de uma nação que sempre sonhamos: democrática, livre, soberana e com justiça social.
Esta construção é de todos e todas nós, não depende apenas de boa vontade dos governantes, de achar que as coisas por si só irão acontecer. Somos o país do futebol, do carnaval, do tropicalismo e precisamos também se transformar no país da humanização.