terça-feira, 29 de março de 2011

Brasil da Humanização

Confesso que minha percepção do mundo é de um imenso espaço onde as mais significativas potencialidades do ser humano possam estar à serviço da vida, em viver de maneira cooperativa, de maneira em que os avanços obtidos no campo do conhecimento, tecnologias, ciências, sejam realmente destinados em favor da própria humanidade e não das mazelas do capitalismo. 

O Brasil vive, se não o melhor, um dos mais importantes e significativos momentos de sua história onde é possível verificar avanços em todas as camadas sociais, em todas as áreas temáticas e é possível verificar que adquirimos o total respeito internacional, que nos coloca em uma posição de referência no mundo. 

Tantas coisas hoje são possíveis no Brasil, o que antes parecia coisa de outro mundo. Hoje são recebidos como “gente” no tapete vermelho do Palácio do Planalto índios e índias, trabalhadores e trabalhadoras, sem terra, negros e negras; hoje estamos vendo serem presos, políticos, juízes, desembargadores... 

Sim, muitas coisas mudaram, mas há muito a ser feito. Não podemos aceitar, ao assistir pela TV ou ler nas páginas dos jornais, cenas como aquela, onde policiais, a sangue frio, sem piedade, sem o mínimo de humanidade, atiram sobre um adolescente de 14 anos, na cidade de Manaus; cenas onde uma mulher é obrigada a tirar a roupa para uma revista em São Paulo e que só se tornou público a mais ou menos 9 meses depois do ocorrido. 

São dois de tantos outros fatos que poderia relatar e que nos remete a interpretar como o limite do abuso de autoridade, da ausência de valores, da incapacidade de compreensão da moral e isso para dizer que não se trata aqui e espero que em nenhum outro lugar, a possibilidade de qualquer justificativa, porque não existe. 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo III nos diz que “toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” e no artigo V que “ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Estas palavras já bastariam. 

Mas quero lembrar que, se Jesus Cristo, em sua humanidade visse estas cenas, repetiria suas sábias palavras “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”; diria Mahatma Gandhi que “o mundo está farto de ódio”; Martin Luther King está em outro plano nos alertando que “nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam”; Dom Oscar Romero - no último dia 24 de março se celebrou 31 anos de sua morte - diria em uma de suas revolucionárias homilias que “ninguém está vencido, mesmo que o coloquem debaixo da bota da opressão e da repressão”... 

Não, não posso deixar de expressar o meu sentimento de indignação e ainda dizer que nosso país e o seu povo ainda precisa aprender algumas lições e a primeira delas é a de não se calar diante de tantas barbaridades, de tantas injustiças. Só assim é que será possível continuar a seguir o caminho do desenvolvimento, de uma nação que sempre sonhamos: democrática, livre, soberana e com justiça social. 

Esta construção é de todos e todas nós, não depende apenas de boa vontade dos governantes, de achar que as coisas por si só irão acontecer. Somos o país do futebol, do carnaval, do tropicalismo e precisamos também se transformar no país da humanização.


Leonardo J. D. Campos
Artigo publicado no Jornal ABCD Maior - 29 a 31 de março de 2011 - Caderno Opinião - Pág. 2


terça-feira, 22 de março de 2011

Fazer política é para todos


Estamos diante de um tempo que, se não novo, é extremamente diferente em nosso País. Queiramos ou não aceitar, caminhamos a passos largos para uma grande transformação social e política na sociedade brasileira, fruto de uma revolução pacífica e democrática. 

Após a eleição de Lula, em 2002 e, com a sua posse como presidente em 2003, iniciou-se a implantação de um novo projeto político, que tem como base a credibilidade internacional, o respeito pela Nação, o crescimento econômico com distribuição de renda, a valorização do poder de compra do salário mínimo, a valorização do trabalhador do campo, grande investimento em educação técnica, tecnológica e universitária e tantas outras coisas que passaria aqui muito tempo para enumerar tamanha inversão de valores implantados pela política do governo Lula.  

O ano de 2011 chegou com a posse da primeira mulher a presidir o Brasil, trazendo seu “jeito” de mulher forte, em meio a um monte de “marmanjos”, em um País que, infelizmente, ainda que de maneira pouco explícita, é preconceituoso quanto à capacidade da mulher de ocupar postos de comando.  

Dilma chegou, reafirmando sua principal bandeira de campanha, como principal objetivo de seu governo, a erradicação da pobreza, anunciando um governo voltado para a melhoria das condições de vida de uma população que ultrapassa os 190 milhões de pessoas; chegou não temendo afirmar que “Governar não é apenas somar obras ou ações sociais, mas é também construir um projeto para o País” e, para tanto, fez gol de placa ao instalar o Fórum dos Direitos da Cidadania, um importante espaço para discutir e avançar em novas políticas públicas na área social; Dilma chegou afirmando que a questão dos direitos humanos não pode ser uma questão seletiva, mas para todas as pessoas; chegou para “gritar” ao País e ao mundo: “A mulher pode”. 

Que bom! As primeiras páginas dos jornais da atualidade estampam manchetes falando de crescimento do número de empregos, olimpíadas, copa do mundo, trem bala... 

Sim, política, para uns, é arte; para outros, apenas uma ciência. Tem aqueles que a veem como uma forma de se estabelecer na sociedade etc. Sou daqueles que acreditam na política como sendo um meio para transformar a vida das pessoas, um meio para implantar um projeto de sociedade, de acordo com nossa visão de mundo, respeitando os valores e a ética, defendendo os direitos e deveres do conjunto da sociedade. 

Sim, política não é para poucos, é para todos e todas. O Brasil demonstrou e revolucionou, dando ao mundo uma verdadeira aula de democracia, onde o povo pode participar dessa transformação, pelo voto livre e não pelo poder das armas.


Leonardo J. D. Campos
Artigo publicado no Jornal ABCD Maior - 22 a 24 de março de 2011 - Caderno Opinião - Pág. 2