Pela paz consentida
Tem uma frase muito
conhecida, da letra da música “eu só peço a Deus”, composição de Leo Gieco e Raul Elwanger, interpretada por diversas vozes, que
diz: “Eu só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente, pois não posso
dar a outra face se já fui machucado brutalmente”. Esta pequena parte da linda
composição me remete a refletir sobre tantas formas de injustiças em nossa
sociedade que passam despercebidas, por razões diversas, como, indiferença,
comodismo, senso comum etc.
Fazendo menção à
frase acima, percebo as tantas marcas brutais da violência em nosso país,
violência de toda ordem às quais não é possível ser indiferente, ser conivente.
A violência contra a
mulher, por exemplo, atinge dados assustadores no Brasil, onde a cada quatro
minutos uma mulher é agredida em seu próprio lar, por uma pessoa com quem
mantém uma relação de afeto; vinte e três por cento das mulheres brasileiras
estão sujeitas à violência doméstica, dados publicados pela Sociedade Mundial
de Vitimologia (http://www.worldsocietyofvictimology.org/).
Infelizmente, este
cenário é amplamente conhecido por nós, mas me parece que a informação de que tantas
barbaridades cometidas contra a mulher de todas as idades, não chegou ao
conhecimento do bispo da Arquidiocese de Guarulhos (SP) dom Luiz Gonzaga
Bergonzini, ao declarar em entrevista, ao jornal Valor Econômico, à jornalista
Cristiane Agostine: “Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que
foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é
difícil”.
Senhor bispo, admita
você, porque a única coisa que posso admitir ao ler esta afirmação é a minha
indignação, a minha repulsa... Jesus Cristo, defensor da vida e da vida em
abundância, talvez repetiria agora a sua célebre frase “Pai, perdoai-lhe”.
Justificar a
violência como algo consentido é como dizer que eu gosto de ser violentado, que
eu gosto de sofrer, que o sofrimento é algo aceitável. Convenhamos, ninguém, em
sã consciência gosta de sofrer. Portanto, não há justificativa para a
violência, ainda mais partindo do pressuposto acima.
Pela paz consentida, quero continuar acreditando na humanidade, nos direitos humanos, na vida como algo inviolável, nas relações humanas na sua essência, na justiça em todos os níveis; quero para minha filha, para todas as mulheres e homens a liberdade de viver esses valores; quero para todas as pessoas o direito e o dever de respeitar os caminhos dessa liberdade; quero que todas as feridas de qualquer ordem sejam estancadas sem cicatrizes, em favor da vida.
Leonardo J.
D. Campos
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